Mensagem falsa diz que números do coronavírus foram inflados para que Brasil chegasse à marca de 100 mil óbitos e que as causas foram apenas ‘renomeadas’. Não é verdade.
Circula nas redes sociais uma mensagem que diz que as mortes por pneumonia e insuficiência respiratória têm sido registradas no Portal da Transparência do Registro Civil como sendo decorrentes de Covid-19 e que isso explica o alto número de óbitos pela doença. É #FAKE.
A mensagem que viralizou leva à falsa conclusão de que os números da Covid-19 no país estão sendo inflados artificialmente. O texto diz assim: “Portal da Transparência! Óbitos por pneumonia em 2019: 97.091. Óbitos por insuficiência respiratória em 2019: 41.220. Entendeu onde estão as 100 mil mortes? Renomearam pneumonia e insuficiência respiratória para Covid”.
Não é verdade que o Portal da Transparência, que divulga dados inseridos por cartórios espalhados pelo Brasil, contabiliza juntas as mortes decorrentes da Covid-19, de pneumonia e de insuficiência respiratória. As causas são informadas no site em separado.
Os óbitos pela Covid-19 são dispostos no portal em destaque, e os de pneumonia e insuficiência respiratória, sob o guarda-chuva das causas respiratórias (as outras são Síndrome Respiratória Aguda Grave, septicemia e causas indeterminadas). Ou seja, as causas não foram “renomeadas”.
Pelo portal, que pode ser consultado por qualquer pessoa, os óbitos por pneumonia somam 140.507 em 2019 no país de 1º de janeiro até 12 de agosto; as mortes por insuficiência respiratória chegam a 61.129.
Já em 2020, no mesmo período, as mortes por pneumonia somam 109.257, e as por insuficiência respiratória, 58.290. Os números são os que aparecem no sistema às 9h desta quarta-feira (12). Como os dados mudam conforme novos registros são inseridos pelos cartórios no país e isso pode levar até 60 dias para ocorrer em alguns locais, as mortes neste ano por essas duas causas tendem a ser ainda maiores.
Além disso, há outras 94.008 mortes decorrentes da Covid-19 no portal até esta quarta. Mais uma vez, a diferença para as mais de 103 mil contabilizadas pelo consórcio de veículos de imprensa se dá por conta da defasagem na inserção dos registros pelos cartórios. Além disso, a metodologia é diferente, já que os dados são divulgados diariamente pelo consórcio não necessariamente levando em conta a data do óbito.
A especialista em saúde pública Ligia Bahia, médica sanitarista e professora da UFRJ, rechaça a mensagem que vem circulando e diz que não se pode menosprezar a pandemia no Brasil. “É complemente falsa essa mensagem sobre a divulgação dos números da Covid-19, não faz sentido algum. O diagnóstico de Covid-19 é clínico, geralmente realizado quando o paciente está grave, com dificuldade para respirar, ou após exame de PCR”, afirma.
“O número de casos e óbitos de Covid-19 é muito grande, e infelizmente devemos chegar ao topo mundial, para dor imensa nossa. É de um mau gosto muito grande que se brinque com isso. É uma doença que mata e tem taxa de transmissão muito grande no Brasil”, pontua Ligia.
O infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, alerta que os dados estão subnotificados, isso, sim – e não inflados propositalmente.
“Certamente não estamos inflando os dados de Covid-19; pelo contrário, os números publicados são bem conservadores. Isso porque tem muita gente que não passa por teste, muita gente morrendo sem diagnóstico. Não há dúvida de que os números de mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave, a SRAG, que a gente tem hoje, sejam superiores aos casos de Covid-19 registrados”, considera o médico.
“Quando você olha a mortalidade por SRAG, o número de casos está muito maior do que o da mortalidade pelo coronavírus. Provavelmente a gente tem mais casos de Covid-19 do que os registrados confirmados. A gente só contabiliza os confirmados. É a tão falada subnotificação.”