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Clipping – Coronavírus causa queda no número de casamentos celebrados em cartórios no RS

Registros caíram 10% nas cidades gaúchas durante os meses de pandemia

Maiara Fernandes, 27 anos, e Daniel Herter, 28, chegaram ao Cartório de Registro Civil da Segunda Zona, situado no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, às 15h30min do último dia 14. Em cinco minutos, foram chamados à sala onde seria celebrado seu casamento – inicialmente, marcado para as 15h45min.

— Posso colocar aqui? — perguntou Maiara à juíza de paz, posicionando seu celular sobre uma mesa para que familiares e amigos, conectados por um aplicativo de videochamadas, acompanhassem a cerimônia.

Depois de acomodado o aparelho, a celebrante perguntou se a pedagoga e o enfermeiro se casariam por livre e espontânea vontade. Diante das respostas afirmativas, pediu que o casal e as duas testemunhas presentes assinassem a certidão e, enfim, anunciou:

— Em nome das leis, os declaro casados. O beijinho tem de ser sem tirar a máscara, infelizmente.

Em quatro minutos e 40 segundos de uma cerimônia rápida e pragmática, sintomática destes tempos de pandemia, Maiara e Daniel passaram da situação de solteiros para a de casados.

Noticia-se, ao redor de todo o mundo, o aumento no número de divórcios durante os meses de confinamento imposto pelo coronavírus, incitado pela convivência compulsória de casais e o recrudescimento de conflitos matrimoniais. Casamentos como o de Maiara e Daniel, entretanto, seguem acontecendo, mesmo que em ritmo menos acelerado e com mais normas do que o habitual.

De março a julho, período dentro da pandemia, os cartórios registraram 101.550 casamentos no Rio Grande do Sul, uma queda de 10% se comparados aos 112.839 celebrados no mesmo período do ano passado. Apesar do recuo, o número ainda é superior ao total de matrimônios registrados em igual intervalo em 2017 e 2016.

O decréscimo, segundo escreventes, decorre da impossibilidade de comemorar uniões civis em festas que tenham a presença de um juiz de paz, modalidade que se popularizou nos últimos anos por casais que dispensam o ato religioso. Nas igrejas católicas e evangélicas consultadas por GaúchaZH, casamentos seguem suspensos por tempo indeterminado.

— Houve muitos cancelamentos porque, normalmente, as pessoas querem reunir vários amigos e parentes, e isso está proibido — afirma a escrevente Débora Araújo, do Cartório de Registro Civil da Primeira Zona de Porto Alegre.

Por causa da pandemia, cartórios tiveram de adequar suas regras para manter os registros de nascimentos, óbitos e casamentos, considerados atividades essenciais. As cerimônias de matrimônio tornaram-se ainda mais protocolares, ligeiras e restritas – atualmente, apenas os noivos e as duas testemunhas requeridas por lei podem comparecer ao ato. Em alguns casos, libera-se a presença de um fotógrafo.

Namorados há dois anos, Maiara e Daniel tinham planos de morar juntos depois que casassem, mas o coronavírus acelerou a mudança. Daniel trabalha na Cadeia Pública de Porto Alegre e precisou sair de casa às pressas para preservar os pais, integrantes de grupo de risco.

Juntos, mudaram-se para um apartamento no bairro Floresta, na Capital, e decidiram pelo casamento civil para chancelar sua união. Para comemorar, distribuíram lembrancinhas aos amigos e familiares – macarons e um bilhete dizendo “o amor é doce” – e, à noite, chamaram os mais próximos para uma festa virtual. Um pastor abençoou os noivos e um professor deu uma aula de dança para os mais de 50 convidados.

— Foi diferente, até um pouco estranho, mas especial. Deu para estar um pouquinho perto de quem a gente ama e ficará guardado para os registros históricos — diz Maiara.

Suspensão de prazos

Uma das principais mudanças que levaram ao adiamento de casamentos durante a pandemia, de acordo com a Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado (Arpen-RS), foi o cancelamento de prazos. Antes, casais tinham 90 dias para celebrar a união após apresentarem seus documentos e receberem a certidão de habilitação emitida pelo cartório. Hoje, esta data limite está suspensa.

— Estas pessoas podem optar pelo casamento depois que a pandemia passar. Isso é justo, até porque muitas haviam programado festas e ficaram impedidas – observa o presidente da Arpen-RS, Sidnei Birmann. — Mas é curioso, muitos não têm se importado em realizar seus casamentos mediante uma série de cuidados. Até achei que haveria uma redução maior.

Entre os casais que decidiram não deixar para depois também estão Fernanda Ferrari, 36 anos, e Vinícius do Nascimento, 36. Noivos desde fevereiro, a administradora e o aviador casaram-se em 20 de junho em uma cerimônia reservada no apartamento onde moram, no bairro Rio Branco, em Porto Alegre.

Pais e irmãos compareceram à união usando máscara e mantendo a distância uns dos outros. Já a recepção ocorreu em um restaurante italiano da cidade, na qual cada núcleo familiar sentou em uma mesa distinta.

— Resolvemos não esperar que a pandemia passasse, porque a vida segue. Fizemos como deu, sem grandes planos. Temos dito: “O que o isolamento uniu, nada mais separa” — diz Fernanda.

Casamentos celebrados em cartórios de março a julho no Rio Grande do Sul 

2020 – 101.550
2019 – 112.839
2018 – 103.520
2017 – 88.272
2016 – 81.897

 

Fonte: GaúchaZH

Foto: Vagner Câmara

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